Brilha onde estiver

Depois daquele estalo, as vozes se calaram, todos na expectativa, torcendo com toda força para que não fosse você que estivesse debaixo daquela roda. Foi apenas o tempo do carro dar ré e eu vi você, tão pequeno, caido no chão. O problema foi que gritar não resolveu. Minhas pernas foram perdendo a força, o choro estava me derrubando. Não aguentei descer do carro, pra te sacudir e te impedir de partir, dei a minha última olhada. Antes não a tivesse dado, o sangue já estava ao seu redor. A páscoa que até então estava sendo como outra qualquer, oração, ovos, festa.. se transfigurou. Desejei nunca ter ouvido aquele barulo, que se repetiu em minha mente por toda a noite, junto com as suas imagens em vida, se encondendo em baixo da minha mesa, correndo atrás das galinhas, entrando no carro rapidinho para ir passear. Lembrei de todas as vezes que você fugiu, e nós, loucos ficamos te gritando, procurando.. preocupados em você não voltar. Mais você sempre voltava, fedido, mais voltava. Quem dera fosse assim dessa vez. E agora, quem irá comer meus legumes quando eu não os quiser? Ninguém. Você se foi para sempre.
O que mais me impressiona é a capacidade que os animais têm de amar. Não importa se você se veste bem ou mal, se é rico ou pobre, bonito ou feio, se você amá-lo ele também o amará, sempre, fielmente. Quem dera os seres humanos também tivesse tal capacidade de amar sem medidas, tal lealdade.
O meu cachorro era pequeno, vira-lata metido a poodle, com aquele latido fininho e agudo. Rodava a casa toda achando que nos protegia, bom, pelo menos essa era a intenção dele.
E hoje, quando eu levantei, desejei que essa páscoa houvesse sido apenas um pesadelo, que ao olhar na janela eu pudesse ver aqueles lindos olhinhos pretos, semelhante a jabuticabas, brilhando; mas a realidade bateu com força em mim. Eu nunca mais os verei.
Sheick, você foi um bom amigo, ou bom ouvinte e um fiel companheiro, mais hoje é uma estrela.
A sua ausência está doendo em todos.
Te amamos.